Patroas: CEOs de MS ganham o Brasil e são referência no empreendedorismo feminino

Hoje comemoramos o Dia Mundial da Mulher, mas a data vai muito além de apenas celebrar o sexo feminino. É o momento de reforçar a ascensão da mulher como figura participativa da sociedade, do seu papel no desenvolvimento da nação. Por isso, nossa homenagem também vai para aquelas que investiram no empreendedorismo feminino em MS e que estão construindo seus próprios impérios. E para quem ainda duvida do potencial feminino nos negócios, o Midiamais conta a história de três CEOs – termo em inglês para diretor executivo – que dominam seu mercado e já despontam no cenário nacional.

Por isso, convidamos as empresárias Natalie Pavan, da My Cookies, Carol Lúcio, da Carol Lúcio Semijoias, e Solange Brum, do Grupo Vale Brum, para explicar como investiram nos respectivos empreendimentos até que eles tivessem força para sair do território sul-mato-grossense. Mas antes, confira esses números sobre empreendedorismo feminino em MS.

Empreendedorismo feminino em MS

Foi divulgado na última sexta-feira (5) estudo desenvolvido pelo Sebrae Nacional com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) sobre o perfil das empreendedoras no ano passado. De acordo com as informações, no 3º trimestre de 2020 haviam 8,6 milhões de mulheres Donas de Negócios no Brasil. Em Mato Grosso do Sul, as mulheres representam 32% no total de Donos de Negócios.

Além disso, o Sebrae-MS atua desde 2013 em ações focadas nas empreendedoras com o programa Sebrae Delas – Mulher de Negócios. De MS, o programa foi levado para outras 12 unidades do Brasil em 2019 para auxilia empresárias que desejam alcançar o sucesso com seus negócios.

Frente a esse resultado, é possível perceber que Mato Grosso do Sul é um Estado onde mulheres estão, cada dia mais, em busca da sua independência financeira e realização pessoal através dos negócios.

Agora, vamos para as histórias de três empreendedoras de Campo Grande que decidiram inovar nos seus produtos e conseguiram expandir suas ideias. Com produtos de qualidade, elas aumentam diariamente as perspectivas para as suas empresas.

Natalie Pavan 

A Apple começou em uma garagem, o McDonald’s em uma casa e a My Cookies…nas portas das escolas! Isso mesmo, os queridinhos cookies tão famosos no Estado foram comercializados, primeiramente, para os alunos das escolas de Campo Grande. Só um bom tempo depois que a empresa saiu desse regime e conquistou seu primeiro quiosque.

Mas afinal, de onde surgiu a ideia de vender os cookies e por que eles cresceram tão rápido na região? Natalie Pavan, dona da My Cookies, tem 33 anos e contou como iniciou todo o negócio. Acontece que ela foi desafiada a cozinhar um cookie padrão norte-americano. Ela decidiu mudar um pouco a receita e acrescentar ingredientes que todo brasileiro ama, distribuindo para amigos e familiares em seguida. O resultado foi um sucesso. Logo, ela passou a ser chamada para fazer sua incrível receita para eventos. Então, ela convidou um amigo para fazer parceria e vender o doce em frente às escolas de Campo Grande.

Nesse meio tempo, Natalie, que é formada em Direito, trabalhava em uma empresa e tinha que dividir seu dia em três turnos para manter o emprego e, ainda, continuar os seus negócios. Ela trabalhava em horário comercial, cozinhava os cookies à noite e acordava cedo para assá-los para que o parceiro vendesse aos alunos.

Esse modelo de negócio permaneceu até ela sentir a necessidade de expandir os horizontes e melhorar a experiência do consumidor. Então, a primeira unidade oficial da My Cookies foi inaugurada no antigo hipermercado Wall Mart e, desde então, nunca mais parou de crescer.

“Eu sempre digo: comece com o que você tem, coloque em prática a sua ideia, o dono da ideia é aquele que executa. Então a execução é a regra do jogo sempre né, uma boa ideia apenas no campo da ideia não tem valor nenhum. Não espere o melhor momento, o melhor momento é agora. Comece agora com o que você tem e vai aperfeiçoando no meio do caminho”, diz a empresária.

Maioria feminina

Atualmente, a empresa emprega mais de 70 famílias só em Campo Grande, sendo que 80% dos colaboradores são mulheres. A empresa também já chegou aos estados de Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Distrito Federal e Santa Catarina. Questionada sobre o sucesso da marca, Natalie explica que, desde o início, a My Cookies foi pensada para inovar o que já existia no mercado.

“A My Cookies pensa à frente, fora da caixa. Enquanto as empresas estavam começando a investir no Instagram, por exemplo, a My Cookies já estava lá bombando”, comenta.

Com identidade visual bem estabelecida, receitas que proporcionam experiências aos clientes e bom treinamento dos colaboradores, Natalie explica que teve pouco apoio no início. Ela precisou ser persistente e focar nos seus objetivos para instaurar a qualidade da marca. Além do mais, explica que seu maior investimento é nas pessoas.

“A gente precisa de pessoas, então se eu não entendo de pessoas, eu não entendo de nada. Então hoje eu cuido muito bem do meu colaborador para ele cuidar muito bem do meu cliente. Tudo isso é efeito dominó. O meu business sempre foi gerar valor na vida das pessoas”.

Com fábrica própria inaugurada em 2021 na Capital de MS, hoje equipe produz 500 mil cookies por mês para enviar a todas as unidades de Campo Grande, Cuiabá e demais franquias. Questionada sobre os planos de expandir os cookies para o mercado exterior, Natalie explica que o objetivo, no momento, é abrir mais lojas ao redor do Brasil.

Além do mais, a empresa sempre busca inovar em receitas e produtos. Agora, por exemplo, equipe vai comercializar ovos de Páscoa. Olhando sua trajetória, Natalie se orgulha de como sua empresa teve a capacidade de tocar a vida de muitas pessoas, de proporcionar sabor, sorrisos e momentos que ficam guardados na memória de cada um. Apesar dos inúmeros desafios que enfrentou, diz que o segredo para o sucesso é nunca desistir.

Carolina Correia Lúcio

De servidora pública a empresária, Carolina Correia Lúcio, de 41 anos, é o exemplo de que as mudanças podem significar transformação de vidas se você estiver disposto a agarrar oportunidades. Referência no empreendedorismo feminino em MS, Carolina é advogada e trabalhou como funcionária pública por muitos anos, até se deparar com uma encruzilhada: continuar a carreira ou investir em semijoias.

Tudo começou em 2004, quando sua mãe, Maria Ângela Correia, passou a vender semijoias em regime domiciliar para as clientes. A partir de então, Carolina ajudava a mãe com várias funções, mas saiu do seu antigo emprego, em 2006, para atuar efetivamente na comercialização dos acessórios.

Depois de 9 anos fazendo atendimento exclusivo nas residências, as mulheres decidiram investir em um espaço físico para aumentar as vendas, uma vez que não estavam mais conseguindo atender as demandas individualmente. Mesmo surgido de um regime informal, a empresa não parou mais de crescer.

“A gente conseguiu conquistar o respeito e a credibilidade das mulheres campo-grandenses, e elas realmente amavam e continuam amando nosso produto. Nossa clientela até hoje é muito fiel e estão com a gente desde o primeiro mostruário”, explica Carolina.

As clientes foram as maiores incentivadoras para que as sócias abrissem a loja física e sua abertura foi um grande sucesso, em 2013. Mas os investimentos não pararam por aí, a Carol Lúcio Semijoias também passou a vender suas peças em regime de atacado. Agora, ela consegue enviar produtos para todo o Brasil. Sobre isso, a empresária disse que precisou fortificar o site e investimentos no digital para que as peças chegassem a mais mulheres.  “O atacado nasceu com intuito de ajudar outras mulheres que também querem se empoderar, querem trabalhar e serem independentes”, fala a dona.

Aproveitar oportunidades

É importante destacar que a marca é a única empresa de semijoias do Estado que trabalha com designers regionais. Por isso, um dos principais objetivos de expandir a marca para fora é levar o nome de MS junto. Mas nem tudo foi fácil na vida da empresária, além de ter que lidar com a pressão de mudar a carreira, ela também precisou se adaptar ao empreendedorismo.

Para que isso acontecesse, apostou nos estudos e investiu no conhecimento. Os resultados foram positivos, tanto é que, em plena pandemia, a loja quase não sofreu com as vendas e que está focada em se consolidar ainda mais no meio digital. Carolina também alerta que as futuras empreendedoras devem buscar conhecimento e planejamento antes de entrarem em um negócio, além de adotarem características próprias para o negócio. Portanto, seja verdadeira, expresse quem você é e não tente copiar os outros.

E em meio a tantos obstáculos enfrentados até consolidar a empresa familiar no Estado, Carol explica que sempre teve pulso de empreendedora. Mas o que fez ela ter sucesso foi saber aproveitar as oportunidades, bem como trabalhar o negócio conforme o ritmo adequado. “O crescimento é aos poucos, mas na hora que ele toma força, ele voa”, finaliza a empreendedora.

Solange Valcanaia Brum

Solange Valcanaia Brum tem 50 anos, é mãe de dois filhos e vó de três crianças. Nascida no Paraná, ela se mudou com a família para Campo Grande quando ainda era muito nova. Na época da divisão do Estado, em 1977, o pai de Solange veio para a Capital de MS para investir na plantação de arroz. Inspirada nos pais, ela começou a trabalhar aos 13 anos. E depois de muito empenho, se tornou uma mega empresária de Mato Grosso do Sul, com o Grupo Vale Brum.

O Grupo Vale Brum é conhecido pelos investimentos nas franquias O Boticário e Quem Disse Berenice. Mas antes de chegar ao pódio, Solange ralou muito como auxiliar de escola, em boutiques e banco a partir dos 13 anos. Aos 14, ela se mudou para Camapuã, a 144 km de Campo Grande, para que o pai comprasse um posto de gasolina. Solange ficou no comando do negócio por muitos anos. Nas horas vagas, ela vendia cosméticos no centro da cidade.

Mas a inspiração para abrir uma franquia do O Boticário só aconteceu após ela conhecer o marido, que na época deu o perfume Styletto, da marca, para a jovem. Eles se casaram e ela começou a trabalhar efetivamente com os produtos da perfumaria um ano depois.

“Daquilo que eu comprava, eu percebi que O Boticário era o que eu mais vendia, mais que importado, mais que outras marcas”, explicou. Então ela ligou para a empresa e se inscreveu nas revendas. Desde então, a empresária não parou de investir nos seus negócios.

Hoje, o Grupo Vale Brum tem 22 lojas físicas do O Boticário, duas lojas da Quem Disse Berenice, quatro centrais de revendedores, cerca de 250 funcionários registrados e baixa rotatividade em todos os segmentos. Sobre isso, inclusive, a empresária explica que adota políticas para evitar demitir colaboradores e que a venda direta foi um marco para o seu empreendimento.

“A venda direta foi um divisor de águas, até porque na verdade, com a pandemia, é o que está dando oportunidade para as pessoas que perderam seus empregos. Então a gente tem a venda direta como algo que nos dá muito orgulho, porque a pessoa não precisa investir muito no início. Isso nos faz muito felizes, porque a gente sabe que através do nosso trabalho, muitas pessoas estão conseguindo sobreviver na pandemia”, diz Solange.

O grupo também investe em ações sociais e sustentabilidade. A energia das lojas físicas, tirando as dos shoppings, por exemplo, são provenientes da energia solar. Essa atividade reduz lucros e contribui para a preservação ambiental.

Próximos passos

Grande parte das lojas franquiadas estão localizadas em Campo Grande, mas existem lojas também em Corumbá, Miranda e Aquidauana. Além disso, a CEO afirma que o grupo já está expandindo negócios de outro segmento para fora do Estado.

“É bem novo para gente, mas gostamos de desafios e desejamos muito expandir os negócios, por isso o Grupo Vale Brum vem buscando novas oportunidades dentro e fora de Mato Grosso do Sul”, comenta.

Com uma gestão focada em resultados e lucratividade, Solange vai completar 31 anos com o O Boticário em 2021. Ela também se orgulha com os filhos no comando da empresa e dedica sua função como vice-presidente conselheira do negócio.

“A felicidade é muito grande de ter meus filhos como sucessores e diretores da empresa e os filhos deles, se Deus quiser, vão ser os sucessores deles. E assim a gente vai deixando nosso legado. Nosso legado é ter essa essência e que a gente nunca fique sem ela. É a essência do cuidar do próximo, da confiança, das oportunidades e do desenvolvimento de pessoas”.

Empreendedorismo e independência

MidiaMais conversou com a promotora Clarissa Carlotto Torres, da 72ª promotoria de Justiça, sobre a relação entre independência financeira e relacionamentos abusivos em Mato Grosso do Sul.

Responsável pela Casa da Mulher Brasileira, ela disse que um dos motivos que mantém essas vítimas com seus companheiros é a dependência financeira, atrelada à dependência emocional. Dessa forma, uma saída para essas mulheres é o empreendedorismo.

“Com toda a certeza o empreendedorismo pode ser uma saída para ativar nessa mulher as crenças de capacidade, que gerarão infinitas possibilidades para uma vida melhor, dentro ou fora de qualquer relacionamento. Mas estou falando do empreendedorismo sério, com assessoria especializada, que pode contribuir para o rompimento do ciclo da violência, pois traria mais autonomia e voz para a mulher”, explica a promotora.

Mais do que chefes, patroas!

As mulheres sempre enfrentaram diversos desafios até conquistarem posicionamentos sociais ao longo da história: para estudar, votar, se vestir, trabalhar, assumir cargos políticos, etc. Nesse meio tempo, o empreendedorismo feminino surgiu para quebrar padrões patriarcais de que a mulher pertence somente ao lar e não consegue sucesso empresarial.

Exemplos estão aí para provar o contrário. Por isso, nesse Dia das Mulheres, enxergue a data para além de uma mera celebração. Ser mulher é mais do que um único dia. E para quem tem dúvidas sobre qual lugar a mulher pertence, pode ter certeza que é aonde ela quiser, especialmente sentada na cadeira de CEO.

Fonte: Midia Max.